domingo, 27 de outubro de 2013

Saudações e até a próxima!

Foram sete ingredientes especiais: Artes da Cena, Mercado de Cultura, Literatura, Música, Artes Visuais, Moda, Vocês. Sem dúvida, encerramos a sétima edição do Festival de Arte Negra com a alegria do reencontro com a arte, com a cidade, com o público, com o ancestral, com o contemporâneo.

Entramos dentro da história a fim de entender de onde viemos, para sair em busca dos irmãos, dos primos, dos avós, dos ainda não conhecidos. Criamos um caracol que começou em nosso próprio corpo, para girar em ondas cada vez mais amplas, como se estivéssemos a acenar, cumprimentar e chamar aqueles que parecem distantes em fronteira, pele, língua, forma e época.

Não despedimos do que foi o sétimo encontro, mas fazemos, desde já, um convite ao oitavo, certos que estamos ainda mais enraizados em nossa cidade, graças à presença de um público tão carinhoso, de uma cidade tão rica, de uma cultura tão polifônica, de um mundo tão enovelado.

Aweto!

sábado, 26 de outubro de 2013

A ocupação e as Artes da Cena

Ocupar é definitivamente uma das principais características do FAN, desde o seu princípio. Por se tratar de uma mobilização de expressões de matrizes africanas, pode-se enxergar as questões sem se limitar a áreas espaciais. São as ruas sendo ocupadas como cena, pela cena, a partir da cena, através da cena. Apropriação essa, voltada não apenas para afrodescendentes, mas também por toda a população, de todas as cores, cenas, subjetividades.

O FAN, desde a sua inauguração, levanta questões para (e com) a cidade, no que diz respeito à identidade. Quando temos a oportunidade de focar em um ponto específico e crucial como este, ou seja, a relação da descendência de matriz africana no Brasil, conhecemos nossa própria história. A partir daí, temos condição de nos apropriarmos com mais consistência de todos os espaços: sejam externos, sejam internos.

Mas, afinal, estamos a falar das “Artes Cênicas” ou das “Artes da Cena”? O FAN 2013 entende que a segunda nomenclatura é mais justa, quando propomos um olhar que veja a especificidade de cada expressão como a dança, teatro ou ópera, por exemplo. Além disso, podemos finalmente abrir espaço para as novas criações, como aconteceu com a performance.  A partir daí também é possível entender a cena em um sentido mais amplo, em que a não definição não se refere apenas ao espaço físico, mas ainda, ao lugar onde se dá a atuação.

A troca nas artes da cena também pressupõe um momento de generosidade entre o artista e o público. Assim, torna-se possível perceber os espectadores como elemento essencial da cena. Daí os artistas trabalharem tanto, a ponto de entrarem em um estado de atuação para que se concretize uma interação efetiva. O interessante é que quanto mais esse estado é explorado, pesquisado, investigado, mais possibilidades de criação podem surgir, fazendo com que a cena seja um lugar cada vez mais diversificado.


(post escrito a partir de uma conversa renovadora com Rui Moreira, coordenador das Artes da Cena do FAN 2013)

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

A troca e o Ojá

Expressão. Diversidade. Troca. Esse é o FAN 2013, e é por isso que o Ojá – em português: mercado, feira – é uma maneira interessante de perceber o festival. A partir da reunião de inúmeros produtos, que passam por artesanato, esculturas, biojoias, roupas etc., o público poderá entrar em contato direto com a cultura africana ou, ao menos, de matriz africana.

O nome Ojá pode significar tanto aquele torso, muito usado na cabeça pelas baianas ou pelos frequentadores dos terreiros, como exatamente o local da troca de mercadorias, da barganha, da negociação entre artistas e o público.

A ideia é que possamos comprar pinturas vindas diretamente da África, porém, com a oportunidade de conversar e negociar com um vendedor nigeriano, por exemplo, que carrega fortemente a cultura e as memórias de sua origem, ainda que tenha se firmado no Brasil. Outra oportunidade é conhecer a gastronomia senegalesa, em que o preparo dos pratos é realizado com todo cuidado, a fim de serem compartilhados com quem chega para trocar.

Assim, o Ojá é o espaço onde nossos sentidos serão estimulados ao máximo. Lá, a visão pode se encantar com as obras, o olfato com as especiarias, o tato com as texturas das mercadorias, a audição com as negociações e conversas, o paladar com o cardápio especial. Aqui é lugar de conhecer, trocar, compartilhar, chegar e voltar.


(post escrito a partir de um papo delicioso com Carlandréa, coordenadora do Ojá, do FAN 2013) 

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

FAN, afirmação e moda

A edição anterior do FAN foi a primeira a dar visibilidade à moda como uma arte dentro do festival. A partir daí, houve oficinas de estética, turbante e seminário, assim como uma capacitação para modelos. Naquele ano, apresentações de moda fecharam o evento, mas o sucesso foi tanto que, desta vez, abriram o FAN 2013.

A moda no FAN está longe de passar pelos estereótipos superficiais ou fúteis e se sustenta principalmente no campo político e cultural, em especial, no caso da moda afro-brasileira. Vale ressaltar, no entanto, que apesar de todo o referencial histórico, essa arte está em constante diálogo com as questões do mundo atual, o que a torna completa, já que une tradição e contemporaneidade. 

Curioso como o fortalecimento e a luta da moda nesse setor sofreram diversos questionamentos, inclusive se havia ou não esse tipo de expressão, identidade. Ora, desconsiderarmos essas criações será o mesmo que afirmar que nossa influência passa apenas pela Europa. E é sabido que não é bem assim. Quando usamos um turbante, não estamos simplesmente enfeitando a cabeça. Estamos nos posicionando politicamente, reafirmando de onde viemos e qual é nossa ancestralidade.

Atualmente, é impossível não pensar na expressão da moda afro-brasileira, mesmo quando não há eventos como o FAN. Para se ter uma ideia, quando foi feito o Seminário de Moda Afro-Brasileira no FAN anterior, mais de 70 profissionais do Brasil se inscreveram. Assim, é visível os tantos profissionais que atuam nessa área – profissionais esses que, além de vestirem seus clientes, também usam o que propõem. São pessoas que se posicionam, uma vez que há opções para qualquer ocasião: alta-costura, cotidiano, social, urbano, tudo.

A partir daí, deixamos a questão: devemos usar uma roupa afro apenas em momentos específicos? Será que, em muitos momentos, não estamos apenas a nos fantasiar de africanos, de afro-brasileiros, ao invés de nos expressar a partir de quem somos, de fato? 

(post escrito a partir de uma conversa esclarecedora com Makota Kizandembu Kiamaza, assessora de moda e coordenadora de manifestações populares do FAN-2013)

terça-feira, 22 de outubro de 2013

O feminino e as artes visuais



Qual é a imagem do feminino nas artes? Essa é uma das perguntas propostas pela edição 2013 do FAN, ao lançar um olhar mais cuidadoso sobre a relação/função/espaço da mulher na arte. Especificamente em relação às artes visuais, é possível perceber como a mulher é vista e tratada pela sociedade em inúmeras pinturas e esculturas.

Iemanjá, por exemplo, foi trazida para cá pelos africanos escravizados, tornando-se uma das principais representações do feminino e ganhando um significado próprio no Brasil. Suas esculturas estão espalhadas por todo o país, próximas a praias ou lagos, uma vez que ela pode ser comparada à figura das sereias que seduzem os viajantes.

A partir daí, podemos também observar a representação da mulher na arte Ocidental, pela qual normalmente é vista como objeto sexual ou de afazeres domésticos. Não por acaso, até hoje, as mulheres são vítimas de preconceito e subjugadas ao poder masculino, ao contrário do que se prega na superfície. Basta analisar quantas artistas conseguiram consolidar suas carreiras, se fizermos uma comparação com os tantos pintores e escultores que marcaram presença na história das artes visuais.

Apenas na Modernidade é que as mulheres conseguiram abrir um espaço mais evidente, ainda que muito aquém da potência de seus trabalhos. É aí que finalmente podemos ter um olhar feminino pelo próprio feminino, nos dando a oportunidade de compreender, de forma mais complexa e interessante, um universo outrora restrito a espelhar-se em estereótipos.

Dessa forma, o FAN 2013 convida o espectador a conhecer e refletir melhor sobre o feminino em nossa cultura, assim como na de nossos irmãos. Muitas vezes, é pousando os olhos no outro que podemos perceber a nós mesmos. Aweto!



(post escrito a partir de uma conversa esclarecedora com Antônio Sérgio, coordenador das ações de Artes Visuais, no FAN 2013)

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Afroamérica e o FAN

Um lugar no mundo: Afroamérica, é a vontade de falar de uma África mais perto de nós, ainda que tenhamos outras ainda mais próximas, como a África das Minas Gerais. A ideia é fazer algo mais mineiro, ainda que saibamos que nenhuma cultura ou expressão se restringe a um estado, cidade, país ou continente. Não é deixar de valorizar o que vem de fora, mas sim pensarmos de uma forma espiral, em que vamos ampliando nosso olhar a partir de nosso próprio centro. 

Bem perto, vemos a Argentina, onde comemora-se o Dia da Consciência Negra, mesmo que haja tão poucas pessoas de pele escura na celebração; o Uruguai e a Colômbia, países que tremem pela quantidade de tambores a retumbar em cada canto; o Peru, onde encontram-se misturas de índios e negros, ainda que exista crises de separação. 

Daí, levanta-se a seguinte questão: é preciso trazer pessoas de vários países para discutirmos e trabalharmos nossas influências artísticas? A partir dessa ideia, o FAN lança a proposta de encontrarmos em nós mesmos essa Afroamérica para, futuramente, ampliarmos ainda mais a ocupação do festival. 

Sabemos, ainda, que inúmeros artistas relevantes de hoje são filhos do FAN. E nossa intenção é para que mais e mais filhos sejam gerados aqui: no maior festival de arte negra fora da África. Aweto! 


(post escrito a partir de uma instigante conversa com Maurício Tizumba, diretor artístico do FAN-2013)

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

As fronteiras e a música

Criação, produção, reflexão. A ideia da música no FAN 2013 é não separar (nem ordenar) os três, de forma que possamos transitar livremente pelas expressões, estejam elas no estágio que for. É isso o que mostram os quatro espetáculos absolutamente inéditos construídos para o festival, sempre em perspectiva de possibilidades futuras. Assim, não queremos que o FAN dê continuidade a uma relação distante entre um espetáculo pronto e o público: todos serão parte ou testemunha do que está sendo visto e elaborado pela primeira vez, naquele exato momento.

As barreiras fronteiriças de espaço são quebradas, reforçando o conceito universal da arte. Artistas são convidados a entrar em diálogo com novos pares, de forma coletiva, em lugar de reproduzir o que executam em seus espaços próprios de criação e vivência. Músicos de Belo Horizonte entrarão em contato com artistas de Gana ou Angola, por exemplo, assim como eles também terão a oportunidade de conhecer os artistas daqui.

Por meio da atuação em várias vertentes, o festival levanta questões a todo momento: de que forma tantos músicos, artes e linguagens interferem em nossa criação? A arte negra se restringe à arte que é realizada por pessoas de pele negra ou vai além disso? Por que as mulheres ainda não assumem suas carreiras, a ponto de não depender tanto dos homens na música? Será que devemos carregar o peso das vivências de nossos antepassados ou encontrar formas de contar essas histórias?

Sem correntes, valorizando a ancestralidade africana, priorizando o intercâmbio de ideias, experiências e linguagens, seguimos em frente, em busca de uma musicalidade que seja relevante e impactante para Belo Horizonte e para o mundo. Aweto!


(post escrito a partir de um papo delicioso com Sérgio Pererê, coordenador das ações da Música, no FAN-2013)